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quinta-feira, 5 de março de 2009

Sincretismos Religiosos Brasileiros Parte IV

OS SINCRETISMOS SURGIDOS NO MARANHÃO DURANTE O PERÍODO IMPERIAL
TAMBOR DE MINA


No século XIX, a exemplo do que ocorreu na Bahia, tradições religiosas sudanesas foram sendo
aos poucos adicionadas ao sincretismo ameríndio-católico-banto existente na cidade de São Luís do Maranhão, levando ao surgimento da religião sincrética conhecida como Tambor de Mina.
O Tambor de Mina é uma religião típica da cidade de São Luís, podendo ser encontrado também
no interior do Maranhão e, em menor quantidade, no estado do Pará. Como outras religiões sincréticas, o Tambor de Mina pode ser dividido em dois grandes modelos de culto: o Mina Jeje, com origem na Casa das Minas (a mais antiga casa dessa religião) e o Mina Nagô, com origem na Casa de Nagô. Essas duas casas ficam situadas no bairro de São Pantaleão da capital maranhense e ambas existem desde meados do século XIX.


O modelo seguido na Casa das Minas é o que melhor preserva a tradição jeje de culto aos Voduns
e o que mais influencia a religião como um todo, porém aquela casa não possui casas afiliadas.
O seu ritual inclui cânticos em língua ewe-fon, os tambores são tocados com as mãos ou com aguidavis e são acompanhados pelo gã (um instrumento musical de ferro) e por cabaças pequenas revestidas de contas coloridas. As únicas divindades cultuadas são os Voduns, que são agrupados em famílias, cada uma com características e rituais próprios. Cada Vodunsi (médium do sexo feminino) só incorpora um único Vodum e estes, quando incorporados, cantam, dançam, permanecem com os olhos abertos, conversam entre si e com devotos, dão conselhos, porém não bebem e não comem.







71 - Tabela organizada com base nas informações extraídas de BRESCANCINI, 2008.
Embora a tradição Mina Jeje tenha sido a mais bem preservada dentro da religião, foi a tradição
Mina Nagô que mais se espalhou pelas casas de Tambor de Mina. Essa tradição foi bastante influenciada por aquela, tanto é assim que as vestimentas e as características gerais da iniciação e do culto Mina Nagô são bem semelhantes à Mina Jeje.

A diferença marcante entre a tradição Mina Jeje e a Mina Nagô é que nesta, além do culto aos
Voduns, também são cultuados os Orixás em seus rituais e os cantos são em iorubá. Atualmente,
muitas casas do Tambor de Mina Nagô também adotaram o culto aos encantados em seus rituais72, ao lado do culto às divindades africanas, após absorverem tradições de uma outra religião sincrética nascida no Maranhão, passando a seguir uma prática religiosa bem diferente daquela da Casa de Nagô.

Um característica marcante no Tambor de Mina é que ela é uma religião matriarcal. A grande
maioria dos participantes do culto são do sexo feminino e somente mulheres incorporam os Voduns. Aos homens cabem a função de tocadores de tambor, o sacrifício de animais e o transporte de algumas obrigações.73
Assim como outras religiões sincréticas, nesta não existe um padrão escrito que torne todos os rituais idênticos em cada local de culto. Além dos fundamentos básicos dessa religião, que são comuns a todos os locais de culto, existem pequenas variações ritualísticas nesses lugares, as quais estão intrinsecamente relacionados aos seus dirigentes, o que faz de cada um deles único em seu formato ritualístico.
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72 - WIKIPEDIA, Tambor de Mina, 2008.
73 - WIKIPEDIA, Tambor de Mina, 2008.

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TAMBOR DE PAJÉ OU CURA



No século XIX, assim como aconteceu em São Luís, tradições religiosas sudanesas foram sendo
aos poucos adicionadas ao sincretismo ameríndio-católico-banto existente na cidade de Cururupu, no litoral norte do Maranhão, dando origem a religião sincrética conhecida como Tambor de Pajé ou Cura.

A Cura é uma religião típica da cidade maranhense de Cururupu, podendo ser encontrado também, em menor quantidade, na capital e no restante do estado. Diferentemente do Tambor de Mina, a principal matriz sincrética na Cura não é africana: é ameríndia. Nela podem ser identificados elementos comuns com outra religião sincrética, a Pajelança, e seus rituais estão muito ligados a práticas terapêuticas indígenas.

Uma característica típica da Cura e que é muito encontrada nas casas dessa religião situadas na
cidade de Cururupu é a utilização de duas tabocas (pedaços de bambu) que são percutidas no solo, acompanhando o som dos tambores, do agogô e da cabaças.74



TAMBOR DA MATA OU TERECÔ


No século XIX, assim como aconteceu em São Luís e Cururupu, tradições religiosas sudanesas
foram sendo aos poucos adicionadas ao sincretismo ameríndio-católico-banto existente na cidade de Codó, no interior do Maranhão, dando origem a religião sincrética conhecida como Tambor da
Mata ou Terecô.

O Terecô é uma religião típica do povoado de Santo Antônio dos Pretos, localizado na cidade de
Codó, podendo ser encontrado também em todo o Maranhão e no estado do Pará. Atualmente o Terecô é a mais praticada das religiões maranhense, tendo exercido muita influência sobre as demais surgidas nesse estado ao longo do século XX. Tamanho foi essa influência, que muitas das práticas do Terecô foram absorvidas pela maioria das casas do Tambor de Mina Nagô de São Luiz.75

No Terecô, além do culto aos Voduns e aos Orixás, também são cultuados as entidades conhecidas como encantados, agrupados de acordo com a sua origem:


“(...) os caboclos da mata (como Tabajara e Corre-Beirada); os fidalgos ou nobres portugueses e franceses (como Rei Sebastião e Dom Luís, rei de França); e os turcos ou mouros (como Rei da Turquia).76


Nele são utilizados duas línguas diferentes nos cânticos: iorubá nos cultos aos Voduns e Orixás e
português no culto aos encantados.


Assim como outras religiões sincréticas, nesta não existe um padrão escrito que torne todos os rituais idênticos em cada local de culto. Além dos fundamentos básicos dessa religião, que são comuns a todos os locais de culto, existem pequenas variações ritualísticas nesses lugares, as quais estão intrinsecamente relacionados aos seus dirigentes, o que faz de cada um deles único em seu formato ritualístico.


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74 - FERRETI, As religiões afro-brasileiras no Maranhão, 2008.
75 - FERRETI, Tambor de mina e Terecô no Maranhão, 2008.
76 - SILVA, 2005, p. 85.

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OS SINCRETISMOS SURGIDOS NO PARÁ DURANTE O PERÍODO IMPERIAL


BABASSUÊ OU BATUQUE DE SANTA BÁRBARA



Assim como aconteceu no Maranhão, tradições religiosas sudanesas foram sendo aos poucos adicionadas ao sincretismo ameríndio-católico-banto existente estado do Pará, dando origem a religião sincrética conhecida como Batuque de Santa Bárbara ou Babassuê.

Atualmente o Babassuê é praticado principalmente no Pará e é muito parecido em suas características ao Terecô maranhense, inclusive no aspecto do panteão religioso, onde encontra-se o culto aos Voduns, aos Orixás e aos encantados.77 Infelizmente não encontrei material em minha pesquisas que possam indicar se ambos possuem uma origem comum.

O nome pelo qual a religião é mais conhecida atualmente, Babassuê, parece ter se originado da
palavra Barba-Suêra, que é uma espécie de derivação feita pela pronúncia popular do nome original da religião, Batuque de Santa Bárbara.78

Assim como outras religiões sincréticas, nesta não existe um padrão escrito que torne todos os rituais idênticos em cada local de culto. Além dos fundamentos básicos dessa religião, que são comuns a todos os locais de culto, existem pequenas variações ritualísticas nesses lugares, as quais estão intrinsecamente relacionados aos seus dirigentes, o que faz de cada um deles único em seu formato ritualístico.

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77 - SILVA, 2005, p. 85.
78 - SILVA, 2005, p. 85.
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OS SINCRETISMOS SURGIDOS NO RIO GRANDE DO SUL DURANTE O PERÍODO
IMPERIAL


BATUQUE


No século XIX, a exemplo do que ocorreu no nordeste, tradições religiosas sudanesas foram sendo aos poucos adicionadas ao sincretismo banto-católico-ameríndio existente no estado do Rio Grande do Sul, levando ao surgimento da religião sincrética conhecida como Batuque.
O Batuque parece ter seu nascimento relacionado com o comércio interno de escravos, que ao longo do século XIX foi responsável por transferir considerável parcela da população escrava do nordeste para o sul do Brasil, sobretudo após a lei de proibição do tráfico transatlântico, levando consigo o sincretismo religioso sudanês-banto-católico-ameríndio para as cidades sul riograndenses.

O Batuque é praticado hoje em dia principalmente no Rio Grande do Sul, podendo ser encontrado também na Argentina e no Uruguai, principalmente próximo à região de fronteira.

À semelhança do Candomblé de Nação, o Batuque também é dividido em nações, que como naquele também podem ser reunidas de acordo com a etnia africana e os povos que deram origem aos seus rituais. Assim temos as Nações Ijexá e Oyó de origem sudanesa nagô, a Nação Jeje de origem jeje e a Nação Cabinda de origem banto.

Apesar desta divisão em nações, atualmente a diferença entre elas é bem mais sutil do que no Candomblé de Nação, possivelmente devido a um processo mais antigo de sincretismo interno.

Tal fato levou com que o panteão de divindades e alguns rituais da nação Ijexá, nação predominante do Batuque, fossem absorvidos pelas demais, tornando-se praticamente um padrão da religião.79 Apesar desse processo, ainda existem diferenças no que tange ao preparo dos alimentos e das oferendas sagradas, que ainda guardam muitas das tradições de cada raiz africana de onde se originaram as nações.

No Batuque cultua-se um deus supremo chamado de Olorun e a natureza deificada, personificada nas divindades conhecidas como Orixás, cujo panteão em praticamente todos os templos é formado por: Bará (conhecido no Candomblé de Nação Ketu como Exu), Ogum, Oiá (ou Iansã), Xangô, Ibeji, Odé, Otim, Obá, Ossaim, Xapanã, Nanã, Oxum, Iemanjá, Oxalá e Orunmilá-Ifá.

A exemplo do Candomblé de Nação do modelo de culto nagô, no Batuque também existe o culto aos eguns, realizado separadamente ao culto dos Orixás, no local conhecido como quarto de balê.

Os fundamentos do Batuque são passados oralmente pelos sacerdotes da religião, chamados de Babalorixá (masculino) e Iyalorixá (feminino), durante os rituais de iniciação e de elevação hierárquica.

Além das tradições religiosas, nestes rituais também são ensinados as danças, as cantigas, o preparo das comidas sagradas, a cuidar de espaços sagrados e os votos de segredo e obediência.

Assim como outras religiões sincréticas, nesta não existe um padrão escrito que torne todos os rituais idênticos em cada local de culto. Além dos fundamentos básicos dessa religião, que são comuns a todos os locais de culto, existem pequenas variações ritualísticas nesses lugares, as quais estão intrinsecamente relacionados aos seus dirigentes, o que faz de cada um deles único em seu formato ritualístico.

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79 - WWW.XANGOSOL.COM, 2008

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OS SINCRETISMOS SURGIDOS NO ESPÍRITO SANTO DURANTE O PERÍODO
IMPERIAL


CABULA



No século XIX, a exemplo do que ocorreu no nordeste, tradições religiosas da etnia sudanesa foram sendo aos poucos adicionadas ao sincretismo banto-católico-ameríndio existente no estado do Espírito Santo, levando ao surgimento da religião sincrética conhecida como Cabula.

Devido a não existência de registros documentais sobre a prática da Cabula em datas recentes, muitos supõem que a mesma tenha se extinguido no século XX por falta de adeptos, que teriam migrado para outras religiões, porém nada é possível afirmar a esse respeito, uma vez que as práticas da Cabula eram e podem continuar sendo secretas.

O culto da Cabula era denominado de Mesa e ocorria em casas ou nas matas, sendo mais frequente nestas últimas. A Mesa era presidida por um chefe de culto denominado de embanda80, o qual possuía um ajudante chamado de cambone e os adeptos eram chamados de camanás. Os rituais que reuniam embanda, cambone e camanás eram conhecidos como engira, a qual era secreta e ocorria geralmente à noite.

Sobre a forma como ocorria um engira, Vagner Gonçalves da Silva nos conta que:

“(...) Os cabulistas, vestidos de branco, dirigiam-se a um determinado ponto da mata, faziam uma fogueira e preparavam a mesa (com toalha,velas e pequenas imagens). O embanda entoava um canto preparatório, pedindo licença aos espíritos (Calunga, espírito do mar; Tatá, espíritos benéficos), sendo acompanhado por palmas e por outras cantigas. Durante os ritos, era servido vinho e mastigava-se uma raiz enquanto se sorvia o fumo do incenso, que era queimado num vaso. As iniciações eram feitas nesse momento quando o adepto passava três vezes embaixo da perna do embanda, simbolizando sua obediência ao seu novo pai.


Um pó sagrado, enba, era soprado para afastar os espíritos inferiores e preparar o ambiente para a tomada do Santé, que significava a incorporação do espírito protetor. Para se ter um Santé, era preciso que o iniciado passasse por provas – por exemplo, entrar no mato com uma vela apagada e retornar com ela acessa, sem ter levado meios para acendê-la, e trazendo, então, o nome do seu espírito protetor. Alguns desses espíritos eram conhecidos como Tatá Guerreiro, Tatá Flor da Carunga, Tatá Rompe-Serra e Tatá Rompe-Ponte (cf. Nery, 1963).”81


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80 Embanda parece ter origem no vocábulo m'banda da língua quimbundo e seria traduzido como sacerdote.
81 SILVA, 2005, p. 85 e 86.

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Assim como outras religiões sincréticas, nesta não existe um padrão escrito que torne todos os rituais idênticos em cada local de culto. Além dos fundamentos básicos dessa religião, que são comuns a todos os locais de culto, existem pequenas variações ritualísticas nesses lugares, as quais estão intrinsecamente relacionados aos seus dirigentes, o que faz de cada um deles único em seu formato ritualístico.




OS SINCRETISMOS SURGIDOS NO RIO DE JANEIRO DURANTE O PERÍODO
IMPERIAL

ZUNGU E MACUMBA

No século XIX, a exemplo do que ocorreu no nordeste, tradições religiosas da etnia sudanesa foram sendo aos poucos adicionadas ao sincretismo banto-católico-ameríndio existente no Rio de Janeiro, levando ao surgimento dos sincretismos conhecidos como Zungu e Macumba.

Parece que os termos zungu e macumba foram usados indistintamente no Rio de Janeiro para designar quaisquer manifestações sincréticas de práticas africanas relacionadas a danças e cantos coletivos, acompanhadas por instrumentos de percussão, nas quais ocorria a invocação e incorporação de espíritos e a adivinhação e curas por meio de rituais de magia, englobando uma grande variedade de cerimônias que associavam elementos africanos (Inquices, Orixás, atabaques, transe mediúnico, trajes rituais, banho de ervas, sacrifícios de animais), católicos (cruzes, crucifixos, anjos e santos) e, mais raramente, indígenas (banho de ervas, fumo). A diferença básica entre eles parece ser apenas o período em que estes termos foram utilizados: zungu, em meados do século XIX e macumba, no final do século XIX e início do século XX (substituindo o termo zungu).

À exemplo da Cabula, na Macumba o chefe de culto e o seu ajudante também eram chamados, respectivamente, de embanda e cambone, embora este último também pudesse ser chamado de cambono.

Parece que os inciados na Macumba eram chamados de filhos(as)-de-santo ou médiuns. Não encontrei referências se naquela época os adeptos eram conhecidos como macumbeiros.

Sobre os rituais da Macumba, Vagner Gonçalves da Silva nos conta que:


“Na macumba as entidades como os orixás, inquices, caboclos e os santos católicos eram agrupados por falanges ou linhas como a linha da Costa, de Umbanda, de Quimbanda, de Mina, de Cabinda, do Congo, do Mar, de Caboclo, linha Cruzada, etc. (cf. Ramos, 1940, p.124).”82


Silva nos conta ainda que quanto maior o número de linhas cultuadas pelo embanda, mais poderoso ele era considerado, uma vez que isso era tido como sinal de maior conhecimento sobre o mundo dos espíritos. E assim como em outros sincretismos brasileiros, o Zungu e a Macumba eram organizados basicamente em torno de seu chefe de culto, fazendo de cada unidade de culto algo único, diferindo dos demais por um ou mais elementos ritualísticos.

Devido a grande penetração que a Macumba tinha na população mais pobre e marginalizada do Rio de Janeiro de fins do século XIX, principalmente os afrodescendentes recém libertos pela Lei Áurea, seu nome acabou se popularizando por todo o país e até hoje ainda é usado para designar pejorativamente qualquer religião afro-brasileira ou ritual que envolva magia.

É provável que as Macumbas tenham desaparecido do cenário religioso carioca devido ao aparecimento da Umbanda e a sua rápida expansão no estado do Rio de Janeiro, principalmente na então capital federal, que teria atraído para si um expressivo números de adeptos da Macumba e a influenciado de tal forma que levaram muitas casas de Macumba a se transformarem em tendas de Umbanda ou em casas de Omolocô ou em casas de Almas e Angola.
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82 SILVA, 2005, p. 87.

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OS SINCRETISMOS SURGIDOS NO RIO DE JANEIRO NO INÍCIO DA REPÚBLICA


OMOLOCÔ


Mudanças na estrutura de algumas casas de Macumba do Rio de Janeiro, então capital do país, no final do século XIX e início do século XX, acaba levando ao surgimento da religião sincrética conhecida como Omolocô.

Atualmente o Omolocô é praticado principalmente no Rio de Janeiro, havendo relatos de que também seja praticado em Minas Gerais, em São Paulo, em Santa Catarina e no Ceará. Essa religião guarda muitas semelhanças com algumas vertentes da Umbanda, inclusive existindo muitas casas que se reconhecem como sendo de Umbanda Omolocô. O ritual conforme é praticado hoje em dia pela grande maioria das casas dessa religião recebeu forte influência das obras daquele que é considerado o seu organizador: Tatá Ti Inkise Tancredo da Silva Pinto.

Segundo Tancredo da Silva Pinto, o Omolocô tem como origem as práticas religiosas bantos das tribos Quiôcos83, das províncias de Lunda Norte e Lunda Sul, situadas na região oriental de Angola e que também pode ser encontrados em parte da República Democrática do Congo e da Zâmbia.84

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83 - Quiôco é a forma como os portugueses se referiam a essas tribos, eles se referem a si mesmos como Tshokwe, Tchokwe ou Chokwe.
84 - ITM MINING LIMITED, 2008.


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Figura 16 – Mapa de Angola.85
O Omolocô cultua um deus supremo chamado Nzambi ou Zambi (também conhecido como Nzambi Mpungu ou Zambiapongo), a natureza deificada personificada nos Orixás e nas entidades conhecidas como Orixás Menores, Caboclos, Pretos-Velhos, Crianças, Exus e Pombagiras.

Originalmente o termo utilizado no Omolocô para designar a natureza deificada era Bacuro. Os Bacuros possuíam um correspondente nas divindades dos Quiôcos, que parece terem ficado conhecidas aqui no Brasil como Lunda. Atualmente o termo Bacuro e o nome das divindades foram substituídos, respectivamente, pelo termo Orixás e pelo nome da divindade do panteão nagô que possui os mesmos atributos. É importante ressaltar que, no Omolocô, o termo Orixás é utilizado também para designar alguns Inquices que foram incorporados ao seu panteão, provavelmente por influência dos Candomblés de Nação do modelo de culto banto.


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85 - Figura disponível em http://www.c-r.org/our-work/accord/angola/images/newmappt_lg.gif

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86 Tabela organizada com base nas informações extraídas de OXALÁ, Correspondência dos Orixás, 2008.


Uma possível influência da Umbanda sobre o Omolocô é a existência de uma separação dos Orixás em duas classes: Orixás Maiores e Orixás Menores. Os Orixás Maiores, ou apenas Orixás, são entendidos como sendo uma energia emanada de Zambi e portanto nunca passaram pelo processo de encarnação. São os responsáveis pelo movimento da natureza e pela formação e manutenção da vida. São considerados onipresentes e únicos. Os Orixás Menores, por sua vez, são entendidos como espíritos que passaram pelo processo de reencarnação e que alcançaram uma grande elevação espiritual e que por isso foram dotados de poderes sobrenaturais pelos Orixás Maiores, sendo considerados os intermediários entre estes últimos e os demais espíritos. Por este motivo, eles utilizam o nome do Orixá Maior ao qual estão subordinados seguidos de um sobrenome, chamado de Dijina.

Como exemplo de Orixás Menores podemos citar: Ogum Beira-Mar, Iemanjá Obáomi e Xangô Kaô.87

No Omolocô não existe incorporação de Orixás Maiores, apenas dos Orixás Menores e dos espíritos chamados de eguns. Os eguns são entendidos como espíritos que já possuem certa compreensão espiritual, porém ainda não alcançaram a elevação dos Orixás Menores. São considerados eguns os Caboclos, os Pretos-Velhos, as Crianças, os Exus e as Pombagiras. Existe ainda uma terceira classe de espíritos, chamados de quiumbas ou kiumbas, que são entendidos como espíritos atrasados e que ainda não alcançaram uma compreensão das coisas espirituais.88

Em praticamente todos as casas de Omolocô podem ser encontradas estruturas arquitetônicas que desempenham um papel importante no ritual. Entre essas estruturas destacam-se: a Cangira, associada aos Exus e Pombagiras, do lado de fora do terreiro; uma Casa das Almas, geralmente ao lado da Cangira e associada os Pretos-Velhos; uma cozinha; um salão onde encontra-se o altar, onde são colocados imagens de santos, Caboclos e Pretos-Velhos e que é separado da área da assistência por um muro ou cerca de madeira; e três atabaques.89


De todas as religiões sincréticas surgidas no Brasil, o Omolocô parece ser aquela que mais importância dá a linhagem sacerdotal. Tamanha é a importância que uma casa só é considerada como sendo de Omolocô se a sua descendência no ritual puder ser atestada. O sacerdote mais antigo dessa religião que se tem registro é Tio Êrepê, que a tradição registra como tendo emigrado de São Luís do Maranhão para o Rio de Janeiro, acompanhado de Tio Bacayodé, João da Mina e Oscarina Sani Adió (que a tradição registra como sendo originária da Casa das Minas).


Foi no Rio de Janeiro que Tio Êrepê foi iniciado no Omolocô. De Tio Bacayodé, sacerdote feito por Tio Êrepê, descende diretamente Açumano Sáo Adió (Tio Sani), de quem, por sua vez, descende diretamente Tia Benedita de Yadoxé. De Benedita de Yadoxé é que descende diretamente o Tatá ti Inkise Tancredo da Silva Pinto, a partir do qual parece descender, direta ou indiretamente, os demais sacerdotes do Omolocô na atualidade.90


O Omolocô parece ser a única religião sincrética do Brasil que possui uma bandeira. Ela é na cor verde garrafa, com uma banda91 branca, possuindo uma pena branca no centro. Ela foi trazida da África pelo Tatá Camelo e era um presente do africano Tatá Zambura da Guiné para o Tatá Ti Inkise Tancredo da Silva Pinto. Atualmente ela encontra-se em exposição na Tenda Espírita Três Reis de Umbanda, situada na Rua Basílio de Brito 43, Cachambi, Rio de Janeiro, RJ.92


Além dos fundamentos básicos dessa religião, que são comuns a todos os locais de culto, existem pequenas variações ritualísticas nesses lugares, as quais estão intrinsecamente relacionados aos seus dirigentes, o que faz de cada um deles único em seu formato ritualístico.


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87 - SILVA, 2008.
88 - SILVA, 2008.
89 - SILVA, 2008.
90 - OMULU, 2002 e OXALÁ, Linhagem do culto Omolocô, 2008.
91 - Linha diagonal que parte do canto superior esquerdo para o canto inferior direito, no sentindo de quem olha
92 - SILVA, 2008.


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ALMAS E ANGOLA



Mudanças na estrutura de algumas casas de Macumba do Rio de Janeiro, então capital do país, no final do século XIX e início do século XX, acaba levando ao surgimento da religião sincrética conhecida como Almas e Angola.

Apesar de ser originário da capital fluminense, atualmente o Almas e Angola não é mais praticado nesse estado. Hoje em dia ele pode ser encontrado quase que exclusivamente na região da Grande Florianópolis, em Santa Catarina, para onde foi levado em 1951, por Guilhermina Barcelos. Apesar de chegar na capital catarinense naquele ano, o número de casas de Almas e Angola é relativamente pequeno até a década de 1980, quando a religião começa a se expandir mais expressivamente.

Atualmente, parece existir cerca de 50 casas de Almas e Angola na Grande Florianópolis, sendo a grande maioria descendente da Tenda Espírita Jesus de Nazaré, de Edvaldo Linhares, localizada no bairro Bela Vista, na cidade de São José.93

O Almas e Angola guarda muita semelhança com o Omolocô e com algumas vertentes da Umbanda, inclusive existindo muitas casas que se reconhecem como sendo de Umbanda em Almas e Angola. O ritual conforme é praticado em dia pela grande maioria das casas dessa religião recebeu forte influência de práticas e adaptações criadas por Edvaldo Linhares.94


O Almas e Angola cultua um deus supremo chamado Zambi (em alguns lugares é chamado de Olorum), a natureza deificada personificada nos Orixás (chamados Orixás Maiores) e as entidades conhecidas como Orixás Menores, Caboclos, Pretos-Velhos, Crianças, Exus e Pombagiras. O Orixá Obaluaiê é considerado a força do ritual do Almas e Angola, tendo destaque nos altares dessa religião.

Uma possível influência da Umbanda sobre o Almas e Angola, e seu ponto em comum com o Omolocô, é a existência de uma separação dos Orixás em duas classes: Orixás Maiores e Orixás Menores. Como no Omolocô, os Orixás Maiores, ou apenas Orixás, são entendidos como sendo uma energia emanada de Zambi e portanto nunca passaram pelo processo de encarnação. São os
responsáveis pelo movimento da natureza e pela formação e manutenção da vida. São considerados onipresentes e únicos. No Almas e Angola, os Orixás Maiores são: Oxalá, Ogum, Xangô, Oxóssi, Obaluaiê, Iemanjá, Oxum, Iansã e Nanã. Os Orixás Menores, por sua vez, são entendidos como espíritos que alcançaram uma grande elevação espiritual e que por isso foram dotados de poderes sobrenaturais pelos Orixás Maiores, sendo considerados os intermediários entre estes últimos e os demais espíritos. Por este motivo, eles utilizam o nome do Orixá Maior ao qual estão subordinados seguidos de um sobrenome, chamado de Dijina. Assim como no Omolocô, Ogum Beira-Mar, Iemanjá Obáomi e Xangô Kaô são exemplos de Orixás Menores.95


Como no Omolocô, no ritual Almas e Angola não existe incorporação de Orixás Maiores, apenas dos Orixás Menores e dos espíritos chamados de eguns, que também são entendidos como espíritos que já possuem certa compreensão espiritual, porém ainda não alcançaram a elevação dos Orixás Menores. São considerados eguns os Caboclos, os Pretos-Velhos, as Crianças, os Exus e as Pombagiras.

Existe ainda uma terceira classe de espíritos, chamados de quiumbas ou kiumbas, que são entendidos como espíritos atrasados e que ainda não alcançaram uma compreensão das coisas espirituais.96


Como herança da forma como o Almas e Angola era praticado no Rio de Janeiro, provavelmente uma outra influência da Umbanda sobre esta religião, as entidades são agrupadas dentro de um esquema de sete linhas.



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93 - TENDA ESPÍRITA CABOCLO COBRA VERDE, 2008.
94 - TENDA ESPÍRITA CABOCLO COBRA VERDE, 2008.



95 - TENDA ESPÍRITA CABOCLO COBRA VERDE, 2008.
96 - TENDA ESPÍRITA CABOCLO COBRA VERDE, 2008.


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CONTINUA BREVEMENTE

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