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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

INICIANDO 2009

Iniciando mais um ano de nosso BLOG, vamos começar com u'a matéria de pesquisa do nosso amigo RENATO HENRIQUE GUIMARÃES DIAS (companheiro e participante ativo nas Comunidades: UMBANDA SEM MEDO no Orkut e CASA DO CABOCLO ARRANCA TOCO no Google Groups), que se dispôs a estudar, em várias fontes, as raízes dos SINCRETISMOS RELIGIOSOS NO BRASIL.

Essa é u'a matéria de e para estudos sérios, que aborda vários cultos anteriores à Umbanda no Brasil e os sincretismos (fusões de elementos culturais diferentes, ou até antagônicos) que se viram obrigados a criar seus praticantes, entre os anos de 1500 (ano oficial do "Descobrimento" do Brasil) e 1908 (ano da Criação e Anunciação da UMBANDA NO BRASIL), persistindo muitos deles até os dias de hoje.

Neste estudo, em textos leves e atrativos, o leitor interessado poderá encontrar, sem se cansar, muitos subsídios importantes para u'a melhor compreensão de como tudo começou.

Vamos à leitura explicando desde já, que pela extensão da matéria, ela será colocada em diversas partes.

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INTRODUÇÃO


A partir de 1500, o território brasileiro tornou-se palco para o encontro de três grandes tradições culturais: a ameríndia, nativa da terra; a européia, trazida pelos colonizadores portugueses e a africana, trazidas pelos escravos bantos e sudaneses. Um encontro que foi desde o início marcado pela imposição da cultura européia às populações indígenas e africanas, refletida, principalmente, na imposição da religião cristã da Igreja Católica Apostólica Romana a esses dois grupos.


Essa tentativa forçada de aculturação sempre encontrou resistência, que acabou resultando em várias tentativas feitas por indígenas e africanos de conciliar os princípios de suas culturas e, por consequência, de suas tradições religiosas, a doutrina cultural e religiosa que lhes eram impostas.

Essas tentativas de preservação dos princípios e práticas religiosas indígenas e africanas, por meio da conciliação com os princípios e práticas católicas, acabou levando ao nascimento de várias religiões sincréticas em solo brasileiro, únicas no mundo, algumas delas existentes até os dias de hoje.



Infelizmente existem poucos estudos sobre a grande maioria delas. O que se fez aqui foi reunir, de forma sintética, informações que permitam fornecer uma idéia ampla de como elas são, como surgiram e se desenvolveram e os processos que levaram algumas delas a dar origem a outras.

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O INÍCIO DE TUDO: A RELIGIOSIDADE TUPI

Embora várias nações indígenas habitassem o território brasileiro durante os primeiros anos da colonização européia, nenhum grupo foi tão influenciado pelos portugueses quanto os tupis (1), que no século XVI dominava quase todo o litoral brasileiro e era formado pelas tribos Potiguar (2), Tabajara, Caeté (3), Tupinambá (4) , Tupiniquim, Temiminó e Tamoio (5).

Estudos antropológicos recentes levam a crer que os Tupinambá (incluindo aqui os Tamoio que também eram Tupinambás, apesar de receberem outro nome) eram a nação tupi por excelência e que as demais tribos seriam suas descendentes(6). A nomenclatura pela qual se denominavam parece indicar isso, uma vez que tupinambá significa o grande pai macho.



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1 Tupi significa “o grande pai”.
2 Potiguar significa “papa-camarão”.
3 Caeté significa “gente da floresta”.
4 Tupinambá significa “o grande pai macho”.
5 Tamoio significa “os anciões”.
6 BUENO, 2003, p. 19.
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Figura 01 – As tribos do litoral.(7)
Figura escaneada de BUENO, 2003, p. 18.






Embora o litoral fosse dominado por eles, os tupis não eram originários dessas terras. Pesquisas antropológicas, arqueológicas e linguísticas recentes indicam que o provável local de sua origem seja a Amazônia Centro-Meridional, mais especificamente a região entre os rios Amazonas, Madeira e Tapajós.
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8 Ilustração do livro Duas Viagens ao Brasil, de Hans Staden, 1557.
9 Ilustração do livro Duas Viagens ao Brasil, de Hans Staden, 1557.
10 Ilustração de Theodor de Bry.

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As pesquisas também indicam que em algum momento nos primeiros séculos da era cristã, por motivos ainda desconhecidos, eles iniciaram uma ampla migração religiosa em busca da “Terra Sem Males”, utilizando duas grandes rotas: uma pela litoral, que deu origem as tribos citadas acima e outra pelo vale do Rio Paraguai, que deu origem as tribos guaranis(11). Por volta do ano 1000 da era cristã, as tribos tupis já teriam conquistado quase todo o litoral brasileiro, exterminando ou expulsando para o interior os povos que consideravam bárbaros, que denominavam genericamente de tapuias (12).


Figura 05 – Provável área de origem e rotas de migração tupiguarani no Brasil. (13)
Existem registros bem documentados sobre alguns aspectos da vida dos tupis. Sabemos que eles possuíam duas espécies de líderes: o chefe da tribo, chamado de morubixaba e o líder espiritual, chamado de pajé. Entre as ferramentas que fabricavam, estavam as canoas, cestos, objetos de cerâmica, colares, braceletes, flechas, arcos, lanças, tacapes, machados de pedra e facas. 

Entretanto, é muito difícil tentar reconstruir com detalhes as tradições religiosas e crenças tupis à
época do descobrimento do Brasil, pois o que que sabemos sobre elas deve-se aos relatos feitos por europeus que por diversos motivos se estabeleceram aqui no início do período colonial, tais como o cronista Gabriel Soares de Sousa, o mercenário alemão Hans Staden e os padres Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, os quais não se preocuparam em estudar e deixar registros detalhados das mesmas.

O que podemos apreender dos relatos dos primeiros colonizadores sobre a religiosidade tupi foi muito bem sintetizado no trabalho de Vagner Gonçalves da Silva:

“Seu ponto central era o culto à natureza deificada. O pajé e o feiticeiro ou xamã eram os que tinham acesso ao mundo dos mortos e dos espíritos da floresta, e geralmente a eles competia realizar rituais de cura de doenças, expulsar maus espíritos que se alojavam nos corpos das pessoas e desfazer feitiços mandados pelos inimigos. A ingestão de alimentos e bebidas fermentadas em muitos grupos tinha uma função ritual. Mesmo a antropofagia que caracterizou os tupinambás se revestia de um tom sagrado. Acreditavam que, comendo a carne dos seus inimigos, apoderavam-se de sua valentia e coragem. O uso de instrumentos mágicos, chocalhos (maracás) e adornos feitos com penas de aves, era indispensável para o cerimonial do pajé. A fumaça derivada da queima do fumo [tabaco] também assumia um papel ritualístico importante.”(14)


Tomando por base as crenças dos povos indígenas modernos, pode-se supor que os rituais comandados pelos pajés teriam um papel importantíssimo na vida dos tupis, pois seria através deles que ocorreria a união da humanidade com a natureza, os espíritos ancestrais e os deuses. Seria também por meio desses rituais que se reafirmariam os laços de parentesco e solidariedade que os uniam, além de servirem como meio de partilhar alimentos.



Os tupis possuíam uma divindade suprema do bem que denominavam Nhanderuvuçu, deus da criação, da luz e a quem competia o ato divino do sopro da vida. Nhanderuvuçu teria sua morada no Sol e manifestava-se nas tempestades através de sua voz, na forma de Tupã Cinunga (15) e de seu reflexo, na forma de Tupã Beraba(16). Segundo Câmara Cascudo e Osvaldo Orico, foi somente com o trabalho da catequese, e com a confusão feita pelos jesuítas, que Nhanderuvuçu passou a ser chamado de Tupã (17), em virtude das formas como essa divindade se manifestava durante as tempestades.(18)


Os tupis acreditavam também em outras divindades, como Guaraci (20), Jaci (21), Caapora(22), Uirapuru (23) e Iara (24) e em uma entidade civilizadora denominada Iurupari(25), filho da virgem Chiuci, que teria sido mandando a terra por Guaraci para reformar os costumes dos seres humanos. Segundo Diamantino Trindade (26), essa crença, que lembrava muito a história de Jesus Cristo, teria deixado os jesuítas apavorados.


De forma a tornar a religião católica mais fácil de ser assimilada pelos indígenas, os jesuítas associaram ao seu deus e santos os nomes de algumas divindades tupis. Foi assim, por exemplo, que Nhanderuvuçu passou a ser chamado de Tupã e foi transformado em Deus-Pai. Entretanto, na maioria dos casos, os jesuítas associaram os deuses indígenas aos demônios da doutrina católica. Foi o caso, por exemplo, de Iurupari, que teve sua imagem totalmente invertida e acabou sendo associado ao próprio diabo, embora sua história lembrasse muito a de Jesus.[realce meu]




Além de combaterem o culto a Iurupari e outros deuses, os jesuítas também combateram a autoridade dos pajés, o rito espiritualista de evocação dos espíritos ancestrais e o uso do tabaco como erva sagrada, apesar de adotarem seu consumo para uso pessoal.

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11 Guarani significa guerreiro.
12 Tapuia significa bárbaro.
13 Figura disponível em http://www.geocities.com/capitanias/indigenas.htm . As rotas são de autoria do ator deste estudo.
14 SILVA, 2005, p.24.
15 Tupã Cinunga significa “o trovão”.
16 Tupã Beraba significa “o relâmpago”.
17 Tupã significa “golpe estrondante”ou “baque estrondante”.
18 WIKIPEDIA, Tupã, 2007.
19 Dança Ritual dos Tupinambá, ilustração de Theodor de Bry.
20 Guaraci era o deus do Sol.
21 Jaci era a deusa da Lua.
22 Caapora era o deus da floresta.
23 Uirapuru era o deus dos pássaros.
24 Iara era a deusa das águas.
25 Iurupari significa o mártir, o sacrificado.
26 TRINDADE In OLIVEIRA, 2003, p.18.
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OS PRIMEIROS SINCRETISMOS SURGIDOS NO PERÍODO COLONIAL
SANTIDADE


Como afirmado no início deste capítulo, a tentativa forçada de aculturação sempre encontrou resistência dos indígenas, que procuraram conciliar os princípios de suas tradições religiosas à doutrina religiosa que lhes era imposta, levando ao nascimento de religiões sincréticas em solo brasileiro, únicas no mundo.



De acordo com registros históricos, a primeira religião sincrética surgida no Brasil ficou conhecida como Santidade, nome criado por Manoel da Nóbrega, em 1549, quando viu um pajé em transe pregando a outros indígenas.(28) Os primeiros registros dessa religião datam de 1551 em São Vicente, tendo ganhado força e se tornado mais expressiva no final do século XVI no sul da Bahia e na área do recôncavo baiano.(29) Como em alguns rituais tupis, as cerimônias da Santidade podiam durar vários dias e centravam-se no uso de trajes nativos (pena, arco, flecha, colares, máscaras), no uso do maracá, na fumaça derivada da queima do tabaco e no consumo de bebidas fermentadas, os quais induziam o estado de transe mediúnico que era denominado de Estado da Santidade, derivando daí o nome da religião.


Os adeptos da Santidade cultuavam um ídolo de pedra (chamado de Tupanaçu(30) na Santidade de Jaguaripe), que acreditavam possuir poderes sagrados, rezavam usando cruzes, terços e rosários, construíam “igrejas” e colocavam tábuas com desenhos de símbolos sagradas nelas, cultuavam alguns santos católicos e entoavam cantos em honra aos mesmos, faziam um ritual semelhante ao batismo e realizavam procissões.

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27 MULTIRIO, Ação dos Jesuítas: Catequese e Aldeamentos, 2007.
28 VAINFAS, 2005, p. 43.
29 MULTIRIO, A Santidade, 2007.
30 Tupanaçu significa deus grande.
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Seus líderes eram os payés-açu, os grandes pajés, que em alguns lugares se autodenominavam “papas”. Eles pregavam aos indígenas, ou enviavam missionários para isso, em aldeias, engenhos e missões jesuítas, visando difundir a nova religião e estimular formas de resistência aos portugueses, dentre as quais incluíam-se fugas e ataques contra os povoados, engenhos e plantações de cana-de-açúcar.


Em 1610, segundo relato do governador Diogo de Menezes, existiam no recôncavo baiano mais de 20 mil indígenas e mestiços vivendo em aldeias onde se praticavam os rituais da Santidade. Relatos da Visitação do Santo Ofício, de 1591, contam que alguns senhores de engenho (por exemplo Fernão Cabral de Ataíde) também teriam aderido a nova religião e permitido a celebração dos rituais da Santidade em suas fazendas.(32)




Como forma de reprimir os constantes ataques feitos por adeptos da Santidade aos povoados e engenhos coloniais, Portugal declara, em 1613, guerra de extermínio a essa religião. Esses combates militares, somado aos combates religiosos que já eram empreendidos pela Igreja Católica, leva em poucos anos ao desaparecimento total da Santidade. A última referência específica a ela data de 1627, quando um grupo de indígenas atacou o engenho de Nicolau Soares, matando escravos, saqueando a propriedade e levando os índios ali residentes.(33)





Infelizmente não encontrei em minhas pesquisas nenhum material que pudesse utilizar para identificar possíveis diferenças existentes entre a Santidade do sul e a do nordeste do país. Acredito que essas diferenças tenham existido, uma vez que nessas regiões os elementos da tradição religiosa tupi que foram sincretizados ao Catolicismo eram oriundos de tribos diferentes.

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31 MULTIRIO, A Santidade, 2007.
32 MULTIRIO, A Santidade, 2007.
33 MULTIRIO, A Santidade, 2007.

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TORÉ



Devido às crescentes guerras entre portugueses e os tupis do litoral nordestino brasileiro a partir do início do século XVII, muitos desses acabaram migrando para o interior tentando preservar sua liberdade, cultura e tradições religiosas, entre elas a Santidade. Tal deslocamento levou os antigos habitantes do litoral a viverem entre as tribos indígenas do interior (principalmente tribos das nações Jê e Kariri), o que ocasionou o contato entre culturas e tradições religiosas relativamente distintas e a consequente interação entre elas, que se traduziu, entre outras coisas, na adição de elementos da Santidade à religiosidade ameríndia, levando ao surgimento da religião sincrética conhecida principalmente pelo nome de Toré.

O Toré é uma religião que ainda existe nos dias de hoje, sendo encontrada principalmente no interior do nordeste brasileiro, principalmente entre os diversos povos indígenas que lá habitam. A exemplo da Santidade, nos rituais do Toré são encontrados orações e imagens de santos, cantos e danças, o uso de trajes nativos (pena, arco, flecha, colares, máscaras), o uso do maracá, a fumaça derivada da queima do tabaco e o consumo da bebida fermentada chamada jurema (ou vinho da jurema), feita a partir da casca e das raízes da árvore de mesmo nome, que auxiliam na obtenção do transe mediúnico e a entrar em contato com os espíritos. Em algumas aldeias, rituais que guardam semelhança ao Toré são conhecidos pelos nomes de Ouricuri, Praiá e Particular.(34)




O Toré pode ser entendido como uma religião em que seus adeptos buscam uma maneira de amenizar ou extinguir seus sofrimentos, reequilibrar suas energias e harmonizar seus relacionamentos, sendo utilizado para isso ervas, cantigas e danças ensinadas pelos pajés quando em contato com os espíritos de juremados(36) e caboclos, através do transe mediúnico. No Toré acredita-se que muitos dos caboclos que se comunicam sejam indígenas ou mestiços indígenas-brancos que se encantaram, isto é, que deixaram de ter uma existência corpórea sem terem morrido, vivendo escondidos no mato ou em aldeias longínquas ou míticas. É dessa crença que surgiu a expressão “Caboclos Encantados” para designar esses seres especiais.



Existem dois tipos de rituais no Toré: o público e o “particular”. O primeiro ocorre em dias e locais predeterminados, é aberto à qualquer público (daí sua designação) e tem por objetivo a reunião da comunidade e a divulgação das tradições indígenas aos visitantes, podendo ocorrer ou não o consumo da jurema. O segundo é praticado apenas na aldeia, é restrito aos iniciados e poucos convidados e é nele que ocorre o contato com os Caboclos Encantados, a utilização do fumo como elemento de defumação e o uso da taioba (saia) e do pujá (tocado) elaborados com fibra de caroá.(37)




Pelo Toré pode-se ter uma idéia da importância que a jurema, das espécie preta (mimosa hostilis benth) e branca (vitex agmus castus), tinha como árvore sagrada para os indígenas do interior do nordeste. Apesar do consumo da bebida feita a partir dela ter sido combatido pela Igreja Católica, chegando inclusive a ser proibido em lei pelos portugueses (muitos foram presos por desobedecer a essa lei), seu uso ritual sobreviveu a séculos de repressão e acabou sendo legado a todas as demais religiões que surgiram nessa região do Brasil.

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34 PEREIRA, 2008.
35 PEREIRA, 2008.
36 Juremados são espíritos em processo de “caboclização”, ou seja, de se tornarem caboclos.
37 PEREIRA, 2008.

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Assim como outras religiões sincréticas, nesta não existe um padrão escrito que torne todos os rituais idênticos em cada local de culto. Além dos fundamentos básicos dessa religião, que são comuns a todos os locais de culto, existem pequenas variações ritualísticas nesses lugares, as quais estão intrinsecamente relacionadas aos seus dirigentes, o que faz de cada um deles único em seu formato ritualístico.



PAJELANÇA


Com o início dos trabalhos de catequese na região amazônica no primeiro quartel do século XVII, a partir da cidade de São Luís do Maranhão, iniciou-se um processo de sincretismo entre a religiosidade ameríndia local e o catolicismo, semelhante ao que ocorrera no litoral tupi, levando ao surgimento da religião sincrética conhecida pelo nome de Pajelança.


Embora o termo pajelança acabe sendo usado para designar todo e qualquer ritual ameríndio, ele possui aqui um outro sentido. O termo Pajelança (com a letra P maiúscula) designa aqui a religião sincrética de caráter mágico-curativa que existe nos dias de hoje na região amazônica, sobretudo nos estados do Pará e do Amazonas.



A exemplo da Santidade e do Toré, nos rituais da Pajelança são encontrados o uso de trajes nativos (pena, arco, flecha, colares, máscaras), cantos e danças, a fumaça derivada da queima do tabaco e o consumo de bebidas fermentadas, que permitem ao pajé entrar em transe místico e ter visões e incorporar espíritos. Em algumas Pajelanças pode-se encontrar também a devoção aos santos católicos.



Uma característica marcante da Pajelança é que além de incorporarem os espíritos dos antepassados das tribos e de antigos chefes do culto, os pajés também incorporam espíritos animais, sejam eles reais (jacarés, botos, cavalos-marinhos, cobras) ou imaginários (mãe d'água, cobra-grande), por meio dos quais descobrem a causa das doenças de seus consulentes e os remédios para eles.(39)



Assim como outras religiões sincréticas, nesta não existe um padrão escrito que torne todos os rituais idênticos em cada local de culto. Além dos fundamentos básicos dessa religião, que são comuns a todos os locais de culto, existem pequenas variações ritualísticas nesses lugares, as quais estão intrinsecamente relacionados aos seus dirigentes, o que faz de cada um deles único em seu formato ritualístico.


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38 Figura disponível em http://www.ayahuasca-info.com/data/images/jurema1.jpg
39 SILVA, 2005, p. 89.
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CONTINUA .....................
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