Eu sei que a esta altura, já enchi sua cabeça com diversos conceitos e forma de observação bastante inovadoras. Talvez não ! Talvez tudo sobre o que escrevi antes já tenha lhe chamado a atenção em algum momento da vida. Não importa. Meu principal objetivo é fazer com que você raciocine enquanto vai lendo. Quero que você pense!
Vamos falar agora sobre esses espíritos que transitam pela UMBANDA e outros grupos de espíritos.
Já vimos que na Umbanda, tenha sido o espírito um grande senhor ou um pequeno lavrador, terá que se apresentar numa das três formas escolhidas pelo "Comando Superior", o que de certa forma despersonifica a entidade e evita (ou deveria evitar) a vaidade do médium e a tentativa de determinadas entidades de se apresentarem como grandes "medalhões" e com isso influenciarem e dominarem os incautos seres encarnados, pela tendência que temos normalmente de MITIFICAR (transformar em mitos) as grandes personalidades.
Só para ilustrar, preciso contar aqui um episódio por mim assistido quando ainda nos primeiros anos de peregrinação pelos meios espíritas, que envolve exatamente esse tipo de mitificação de espíritos que se apresentam como "luminares".
Freqüentava eu em determinada época, um grupo espírita dirigido por pessoas muito bem intencionadas, porém (como se poderá notar) com pouca experiência no trato com os espíritos e principalmente, vulneráveis aos valores que certas entidades alardeiam serem detentoras.
Certa vez foi-nos anunciado que teríamos uma visita ilustre (um amigo de uma das pessoas que dirigiam o grupo) que ostentava o título de Comendador. Para espíritas experientes e voltados tão somente às causas espirituais, esse fato não deveria ser de alarde pois como já vimos, nada importa ao espiritismo ou aos espíritos o "status social" de qualquer indivíduo.
Lembre-se disso : Se em qualquer lugar onde se prega a religiosidade você perceber que há por meio dos praticantes e (no caso de serem espíritas) às vezes até de "supostas entidades", uma tendência a valorizar o "status social" de um ser encarnado, comece a colocar sua "barbas de molho"! Diante dos verdadeiros Emissários da Luz não há e não pode haver diferenciação por condição social entre os encarnados. Essa diferença existe sim, mas nas camadas inferiores (ou planos inferiores, como quiserem) de evolução, jamais nos planos mais elevados.
Voltando à nossa história, o Comendador (vou chamá-lo assim para evitar nomes) foi convidado, mesmo sendo sua primeira visita, a fazer parte da MESA.
Abro aqui outro parêntese para explicar que eu, "engatinhando ainda pelos meios espíritas", não tinha conhecimentos suficientes para analisar o que se passou, e também não via o trato com os espíritos da forma que vejo hoje.
Iniciada a Sessão como de costume, era feita uma pausa para que todos "dessem passagem" (como era dito) aos seus protetores - uma tática normalmente utilizada para preparar o ambiente e o "corpo mediúnico".
Qual não foi minha surpresa quando, atuado (e em estado consciente) pelo Preto Velho (nessa mesa era permitida a presença de entidades de Umbanda) comecei a perceber uma agitação estranha em meu sistema nervoso. Era como se a entidade que atuava em mim estivesse incomodada com alguma coisa que eu não alcançava.
Repentinamente, do outro lado da mesa, o comendador "deu passagem" ao seu protetor. A agitação aumentou.
Consciente, eu buscava controlar a vontade que tive de ir desacatá-lo e, compreendendo cada vez menos aquela sensação que não podia ser minha, passei a dar mais atenção ao que se passava ao redor.
Nada demais! O comendador, atuado por seu protetor, identificava-se como "fulano de tal" vindo do oriente e saudava as "energias divinas" que de lá estariam sendo trazidas por sua falange.
Pensei cá comigo : - "Tem alguém maluco aqui - ou eu, ou esse Preto Velho".
O fato é que, o Preto Velho que normalmente me trazia muita calma e permanecia atuando por muito pouco tempo, nesse dia parece que demorou uma eternidade. Só me deixou quando o tal "oriental" se foi. Em continuidade nada mais aconteceu de anormal naquele dia, mas é lógico que eu fiquei com "a pulga atrás da orelha".
Mais um parêntese (eu sou mestre nisso) !
Vou tentar dar uma explicação simplificada sobre esse estado de mediunização consciente em que me encontrava porque sei que será interessante para muitos que passaram e passam por essa experiência sem se darem conta de que estão parcialmente mediunizados (ou incorporados) e que isso é bastante normal até mesmo em pessoas com anos e anos de prática mediúnica.
Embora nesse estado consciente eu pudesse sentir as emoções da entidade, identificar sua energia, ouvir o que se falava ao redor, eu não conseguia me livrar da atuação, mas conseguia evitar que falasse por mim, e desse modo acredito que estava criando um certo conflito pois, enquanto eu raciocinava e ouvia o que me parecia bonito e normal (a fala da entidade) meu pé direito batia no solo sem controle, como se "eu" estivesse reprovando aquela fala. Enquanto meu consciente aceitava as frases do "oriental" como vindas de um ser celestial, uma energia se agitava dentro de mim como se quisesse dizer : "Não é nada disso"!
Taí ! Deu pra entender ? Se não, eu espero explicar melhor quando me aprofundar no tema.
Continuando.
Tudo isso voltou a acontecer numa outra Sessão em que o comendador esteve presente, só que desta vez a agonia foi tão grande que, como o comendador ia continuar a freqüentar o grupo, achei por bem eu me afastar, até porque poderia perder o controle e sem saber porque, sair dizendo sei lá o que para a tal entidade.
O que mais incomodava é que eu não tinha nada contra a presença do comendador que era até uma pessoa agradável.
Bem, como se diz na gíria : "Cantei prá subir"! Afastei-me do grupo dando por desculpas a falta de tempo, indisposições etc.
Passado algum tempo, lembro-me de ter encontrado na rua a filha de um dos dirigentes e também freqüentadora que me relatou o acontecido em uma das reuniões. Parece que o tal "oriental" que saudava "os focos de luz do oriente" resolveu se trair e, como saudação final deixou escapar um "Salve a minha Quimbanda"!
Estava então explicado para mim, a suspeita que já tinha mas que não admitia : debaixo daquela aparência celestial havia um Exú . Isso mesmo ! Um Exú que "entrou na gira", passou-se por luminar, foi respeitado como tal, mas era um Exú.
E aí ?
Como os protetores do local deixaram-no fazer isso?
Por que nenhuma entidade que atuava sobre médiuns muito mais experientes que eu sequer deu o alarme?
Poderia ser um "baita Quiumba" e provavelmente teria sido acolhido como espírito elevado pelo teor de sua fala. Se mal intencionado, sabe-se lá que carga de bobagens poderia ter ensinado.
Por que eu digo que era um Exú?
Porque nenhum "medalhão espiritual" faria saudações à "sua Quimbanda" que como bem sabemos é Linha de Trabalho Mestra de Exú e Pomba Gira ("abrasileirado" de bombogira que é a palavra correta).
Ainda bem que nesse episódio o mal maior apenas serviu de lição para aqueles que vão "abrindo guarda" para entidades aquilatando-as pelas palavras que muitas vezes são ocas (como diria um certo amigo).
Aliás esse fato comporta uma segunda lição que tem a ver com a presença do comendador na mesa que, como se sabe, funciona nessas reuniões como o foco central de energia e por isso deve ser constituída por pessoas treinadas e preparadas para tal. Nessa ocasião o comendador só foi convidado para compor a mesa porque era comendador e amigo de um dos dirigentes, ou seja, foram levados em conta seu "status social" e sua amizade com o dirigente em detrimento de sua preparação ou não para ali estar.
Um outro fato que demonstra bem o perigo desse encantamento com possíveis "luminares" aconteceu bem antes, quando eu ainda estava pensando se entrava ou não nesta Seara.
Estávamos se não me engano, no ano de 1969 e eu freqüentava como assistente às Sessões de um Centro Espírita de raízes Kardecistas (porta pela qual eu entrei no espiritismo). Havia uma reunião às quintas feiras dirigidas por um senhor, dono de uma clarividência e clariaudiência realmente invejáveis. Vamos chamá-lo de Senhor M.
Senhor M era capaz de colocar várias pessoas da assistência sentados em duas fileiras de cadeiras e sair dizendo sem errar, o problema que as levava até ali. Senhor M descrevia o problema que era em seguida confirmado pelo freqüentador e, na medida do possível, dirigia os trabalhos no intuito de ajudar às pessoas em questão. Posteriormente ele dava explicações sobre o ocorrido a todos. Era uma verdadeira Escola da qual eu sinto saudades !
Numa dessas reuniões, foi levada por uma freqüentadora, uma amiga que passava por grandes perturbações emotivas. Médium não preparada, ela recebia em casa uma entidade do tipo "luminar" que inclusive falava em três ou quatro línguas. É isso aí ! Uma entidade poliglota !
Paralelamente a isso, sua vida era um inferno! Problemas, problemas e mais problemas!
Colocada em uma cadeira especialmente deslocada para ela, foi de pronto alcançada a mola-mestra de seus problemas: Era justamente a tal entidade que se tornou seu obsessor e que, a despeito de todo o seu potencial lingüístico, queria a senhora só para ela.
Essa entidade foi chamada, tentou-se convencê-lo de que estava errado (se apresentava como homem) em se meter na vida material dessa senhora e decidindo sobre o que ela poderia fazer ou não, ou com quem poderia estar ou não, infelizmente sem muito êxito.
Antes de prosseguir : É importante se dizer que o fato de dar incorporação a uma entidade poliglota, de uma certa forma preenchia o Ego dessa senhora pois, afinal de contas "era um ser tão iluminado que era capaz de falar diversas línguas". Esse fato, o de se sentir "aquinhoada pelos deuses" que lhe permitiram "tão grande honra(?)", e o provável sucesso que fazia quando atuada, alimentava-lhe a vaidade fazendo crescer mais e mais os elos que os prendiam (entidade espiritual e ser encarnado). Ora, tentar convencer a alguém que a razão de seus problemas é justamente o que acha ser o melhor de sua vida é como dizer a um esfomeado que o único prato de comida que conseguiu está envenenado. Ele não acredita! Ele vai comer!
Ela foi orientada no sentido de não dar prosseguimento às incorporações. Foi-lhe recomendado também que retornasse na semana seguinte porque o trabalho de doutrinação (como era chamado) deveria continuar.
Para encurtar a história.
Na quinta feira seguinte, quando ainda nem havia iniciado a Sessão, a amiga que levara a tal senhora chegou trazendo a notícia de que a tal entidade, estando incorporada, (ela não acreditou e por isso não obedeceu) fez com que a senhora se atirasse pela janela do edifício onde morava, matando-a consequentemente.
Veja bem!
Qualquer obsessor, por mais burro que seja (e normalmente eles não são nada burros) se tem em mente dominar uma pessoa, vai facilitar-lhe sempre aquilo que ela ache que mais precisa - nesse caso a admiração de tantos quanto cercavam essa senhora. É desse modo que ele ganha confiança! É desse modo que ele vai conseguindo aos poucos estreitar os laços que o unem ao ser encarnado até chegar ao ponto de se tornar imprescindível em muitos casos a sua presença. Anote isso!
Texto Extraído do Livro "Umbanda sem Medo Vol I", do autor desse blog
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